sábado, 4 de abril de 2015

Não tenho palavras pra falar do meu amigo KAPI, segue o texto da folha da manhã que diz tudo ou quase tudo

“À Margem da Vida” (no original “The Glass Menagerie”), peça de teatro escrita em 1944 por Tennessee Williams, foi um dos mais de 100 textos encenados sob a direção do diretor de teatro, carnavalesco, poeta e turismólogo Antonio Roberto de Góis Cavalcanti, Kapi, que sempre esteve dentro da vida com muita presença de palco, até passar desta plataforma para outra, com sua morte na noite da última quinta-feira (2). O ativista cultural estava internado há 11 dias no Hospital Ferreira Machado, e foi às onze da noite de quinta-feira que seu coração, imenso e transgressor, parou de bater. Todos os aplausos que Kapi recebeu em vida ganharam eco em seu velório, quando o militante da arte e da cultura foi aplaudido pela classe artística de Campos, que compareceu em peso, na manhã desta sexta-feira (3), à capela Santo Antônio.
O sepultamento aconteceu na Sexta-feira da Paixão, no Cemitério do Caju. E a paixão que Kapi tinha pelo teatro foi visível em toda a sua trajetória, como em 2010, quando dirigiu “Pontal”, uma peça sobre Atafona, litoral de São João da Barra, que consolidou-se como seu último grande sucesso de público. Esta peça foi encenada 16 vezes no momento derradeiro do esplendor do Pontal, antes da natureza dar as cartas e levar o ponto geográfico para a imensidão. Kapi, de talento maior que os oceanos, deixa uma lacuna no universo artístico-cultural de Campos. “É mais uma estrela no céu”, como disseram seus amigos.
A última montagem assinada por Kapi foi “Nelson Rodrigues, “O Anjo Pornográfico”, encenada no Sesc, em Campos, em 2012. O artista inaugurou o novo Teatro Municipal Trianon, dirigindo, em 1995, a peça “Gota d’água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Suas duas poesias que levaram o Fest Campos de Poesia Falada foram “Canção amiga”, em 2002, e “Goya Tacá Amopi”, em 2005.
— Kapi lançou o primeiro nu frontal, para um ator, em Campos. Agora, nos despedimos dessa materialidade chamada Kapi. Suas representações simbólicas serão sempre lembradas. O destino quis que sua passagem de uma esfera para outra tenha sido agora — comentou o professor e pesquisador de comunicação Orávio de Campos Soares.
O trabalho poético de Kapi também está no “Manual da criação de ratos”, livro publicado em 1984 com a poeta Eloah Marconi. Nele, estão poemas como “Canção amiga”, “Sangue na cidade” e “Aquarela”. A peça “Pontal”, por sua vez, foi baseada em seus próprios poemas e em poemas dos escritores Aluysio Abreu Barbosa, Artur Gomes e Adriana Medeiros, e teve no elenco os atores Sidney Navarro e Yve Carvalho. Kapi também assina a direção de: “Romanceiro da Inconfidência”, texto de Cecília Meireles que foi encenado na Igreja Nossa Senhora da Lapa, na Lapa, em Campos; e “Profanos”, uma história sobre a ciência e Deus, escrita pelo poeta Antonio Roberto Fernandes. Como ator, Kapi esteve em muitos espetáculos, como em “O pagador de promessas”, no qual interpretou um repórter.
— Conheci Kapi quando me interessei pela boemia e ele era dono do famoso Bar Vermelho. Depois, comecei a concorrer em festivais de poesia. Então, a gente formou uma parceria de produção, junto com o Yve (Carvalho), e eu não tive nenhum poema que não tivesse sido dirigido por Kapi. Ele é uma pessoa que amo demais; que me deu uma nova visão da minha poesia — afirmou o jornalista Aluysio Abreu Barbosa.
Atores, produtores culturais, músicos, jornalistas, repórteres fotográficos, poetas, literatos, professores, cineastas e outros profissionais estiveram presentes no velório e enterro de Kapi. O teatrólogo nasceu em 18 de junho de 1955. Suas peças foram encenadas em Campos e também na capital do Estado do Rio de Janeiro. Sua militância no universo da arte e da cultura durou mais de 40 anos.
Apoio espiritual — Kapi, natural do Nordeste, apresentava problemas de saúde já há algum tempo: estava diabético, soropositivo e com insuficiência renal. Nos seus últimos cinco meses, residiu na Associação Irmãos da Solidariedade. “Ele disse: ‘Hoje, eu tenho uma família’”, contou a professora Beth Araújo. Diretora da Irmãos da Solidariedade, Fátima Castro falou sobre o artista: “Eu queria tratá-lo de forma diferente, na casa (Associação), mas fui orientada a tratá-lo como todas as pessoas que vivem lá, para facilitar seu tratamento e passagem espirituais”, explicou Fátima.
Nos últimos tempos, por conta de seu estado de saúde, Kapi obteve muita ajuda espiritual de amigos. Segundo Beth, todas as equipes médicas foram muito competentes nos cuidados com o teatrólogo, que, segundo a professora, suportou todo o sofrimento porque “seus pilares eram sonhos”

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