O 4º Rock in Rio de um 'guitar hero' genuinamente brasileiro

Pouca gente entende tanto de Rock in Rio quanto Pepeu Gomes. O guitarrista, que tocou em todas as edições brasileiras do festival, prepara-se para subir no Palco Sunset, na cidade do Rock, num show ao lado do Monobloco e da banda espanhola Macaco. Entre 1985 e 2011, o 'novo baiano' testemunhou as edições do festival como pontos marcantes na evolução da música no Brasil. Além de ter incluído o país no roteiro das grandes estrelas internacionais, o Rock in Rio teve o mérito de estimular a profissionalização do showbiz nacional. E músicos e técnicos reinventaram-se a ponto de virar produto de exportação, ao passo que o próprio evento se desdobrou com versões bem-sucedidas em Portugal e na Espanha.

Pepeu Gomes chegou à primeira edição do festival, em 1985, na condição de 'guitar hero' brasileiro, consagrado por uma década de Novos Baianos (1969-1978) e uma carreira solo que já tinha produzido hits como Meu Coração, Eu também quero beijar e Masculino e Feminino. Se as canções não são associadas ao rock e ao virtuosismo, os ouvidos atentos do povo ligado mais intimamente à música já identificava, ali, o perfil que agrada aos súditos do instrumento sagrado do rock'n'roll. Aos 32 anos, ele já era um capítulo da história do rock no Brasil, mas pouco conhecido lá fora.

"A primeira apresentação no Rock in Rio foi de extrema importância para a minha carreira e para a minha vida. Foi a primeira vez que apareci para todos os países do mundo, o que me levou a ser convidado para representar o Brasil em festivais de outros países", reconhece Pepeu.

A performance 'hendrixiana' de Pepeu Gomes na guitarra, em sua apresentação ao lado da grávida Baby Consuelo (hoje, Baby do Brasil), deixou boquiabertos os gigantes do rock internacional, como John Sykes, guitarrista do Whitesnake. Pepeu também conseguiu o feito de ser o primeiro artista brasileiro a sair do palco do Rock in Rio sem vaias - uma reprimenta aos puristas do som pesado que torciam o nariz para qualquer coisa que não fosse cantada em inglês e tocada com muita distorção. Escalado para o primeiro dia do festival, o guitarrista baiano viu o público despejar sua hostilidade sobre as duas atrações que o antecederam no palco: Ney Matogrosso e, principalmente, Erasmo Carlos.

A estratégia de guerrilha foi mudar o repertório em cima da hora. No lugar de um show pop repleto de sucessos, Pepeu decidiu apostar em números instrumentais para ganhar o respeito de uma plateia ansiosa para assistir a Whitesnake, Iron Maiden e Queen. Deu certo.