sexta-feira, 27 de maio de 2011

O RADIO REFÉM DA FÉ! QUE FÉ?


 Outro dia, no carro, enquanto cruzava a cidade, passeava pelo dial procurando ouvir um pouco de tudo.
"Scan" acionado : "Você está sofrendo? Quer mudar de vida? Crescer na vida e nos negócios? Nossa igreja ajudará você". Mais adiante no dial : "Foi quando resolvi contribuir com um pouquinho, mal tinha para o ônibus, mas foi aí que Deus me recompensou". Em outra frequência: "Então amados irmãos, venham! Presença confirmada de Jesus Cristo". Desliguei o rádio. 

  
  Querem saber quais eram as rádios? Vamos lá, radio cultura "à falecida" como diz meu amigo Amaro lírio, radio Absoluta com "irmão Nelinho" e Marcos Aventura e agora, Marcos França, a pior de todas não!não! não estou "falando" das emissoras ligadas a IURD estou "falando" da Emissora Continental, que tem na sua grade de programação nas tardes uma infinidade de igrejas prometendo ate curar unha encravada e desesperador para quem gosta de ouvir um bom radio,livro apenas a Difusora que por competência do seu proprietario não virou refém da igrejas,mantém Valdebrando com sua tradicional Ave Maria, e o "irmão Nelinho " as 5da manhã graças a Deus.

 Lembro-me de um "missionário" que, antes de ir ao microfone, comentava debochadamente com o operador: "Quer ver como se engana o povo?", e com voz piedosa e tom choroso dizia ao abrir o microfone: "Deus me disse que você deve contribuir com 15 reais. Porque 15? Não sei amado... É mistério de Deus". Ninguém me contou, esse (e outros) eu vi. 
  
  Fiquei imaginando como deve ser tentador para um dono de rádio que, desgastado com problemas financeiros, queda de faturamento, problemas com funcionários, recebe a proposta de "alugar" seus horários a  grupos religiosos.
  
  Não basta a infinidade de piratas, o comércio da fé invade as oficiais também. Promessas de bênçãos financeiras, "desmanche" de trabalhos de macumba, "descarrego", sal grosso, campanha dos 7 não sei o que, dos 350 pastores e por aí afora. 

    Me preocupo  com os profissionais que perdem os empregos e seu campo de trabalho ainda mais numa cidade com pouquíssimas opções, como também com aqueles que, por desespero, se deixam levar pela força de persuasão que o rádio proporciona. 
  
  Já trabalhei em rádio religiosa e sei que tem muita gente boa lá. Bons profissionais, bem intencionados que dependem financeiramente daquele trabalho. Não quero generalizar. Tem muita gente que leva o trabalho a sério, confundindo sua profissão com missão. 

  Aliás, o rádio tem esse forte elemento que de certa forma nos transforma em "missionários", seja qual for a missão, seja qual for a mensagem. O problema é que isso fica perigoso quando o sentimento é messiânico, excludente, forçado e arrogante. 
   
   Não conheço um dono de rádio que não tenha recebido uma tentadora proposta pra arrendar sua emissora. E por que o assédio é tanto? Boa intenção e interesse em propagar uma fé sadia? Não consigo acreditar nisso. 
  
   Radio é empresa e negócio sim, precisa de recursos para sobreviver e sabemos que os dias são difíceis, mas precisamos ir tão longe? Será que inventar um deus que ama o dinheiro e só recompensa quem doa é o ideal?
   
  Minha intenção nesse texto está longe de criticar a fé de quem quer que seja. O que falo aqui é sobre o comercio da fé através do rádio e o desemprego que isso esta causando.
 

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